12 de fev. de 2009

A cena segue

Velório.
Uma moça dentro do caixão.
Um homem chorando calmamente, próximo ao caixão.
Algumas mulheres desconsoladas dentro da sala.
Uma pessoa contando piadas fora da sala.
Uma roda de pessoas rindo disfarçadamente.
Pessoas entrando e saindo da sala, introspectivas.
Cheiro de flores, de velas e de choro.
Cheiro de defunto.
Então começa o poema:

O sol brilhava.
Hora do almoço.
Poucas nuvens, edifícios.
Calor, suor e gás carbônico.
Poucos casais. Poucas crianças.
Muitos passantes nas calçadas.
Barulho de carros e de comércio.
Vi você atravessando na faixa.
Nos abraçamos, atrapalhamos as pessoas.
Nos olhamos nos olhos.
Tudo refletia amarelo e branco.
Respiramos calmamente.
Passos equilibrados.
Pele e proximidade.
Retemos o tempo.
Deslizamos na multidão.
Quase ninguém percebe.

Termina o poema.
E o velório.

Há milhares de anos
Enterra-se o que está morto.

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