22 de nov. de 2013

Ansioso

era o que não acontecia logo de uma vez
e nada de nada.

Mas acontece que, às vezes,
milagres acontecem

e uma vez mais eu fui lá ver o que há,
cheguei perto da fonte
e soprei levinho
pra ver o vento levar.

Outra vez eu nada fiz.
Fiquei olhando o tempo passando
e foi como se tudo
fosse assim
o tempo todo.

Cada instante de vida
vai a cada instante.
Nós fomos o que não somos.

Nós estamos
indo.

25 de jan. de 2013

Poesia do ego


Estes braços soltos
balançando ao vento,
eu conquistei.

A cabeça erguida,
o sorriso relaxado,
eu cultivei.

O peito livre,
o olhar brilhante,
eu iluminei.

Se você me pede,
em seus olhos calmos,
um sinal profundo
de amor tranquilo,

eu te dou.

Quando
fico em sua presença
esqueço
quem ou o quê
sou.

Só consciência,
só amor.

9 de ago. de 2012

Só saudade (agora chega)

nas últimas palavras.
A vontade de reviver
o que se foi.

Partiu.

A verdade de jamais
acontecer
de repetir
o que se passou.

Me surgiu.

A dança do alento,
o prisma sem cores
do sofrimento,
a recordação
e o desejo do retorno
ao momento.

Acabou.

Então sorri sem graça.

8 de ago. de 2012

Sei que você sumiu

mas sinto saudade, querida.
Como de tempo nos brindava
a vida,

o ardor da união, a voz,
a presença, o espírito, a paixão
reunida.

O gesto, o eixo, o contexto,
a companhia e o mesmo ar que se
respira.

Vamos passar uns tempos e,
juntos ou separados,
o tempo acabará.
Vamos ficar atentos para
o céu, que nos abriga,
o sul, que nos norteia,
a terra, que nos guia.

E se houver amor
que nos leve a compor
um soneto calado,
um sertão demorado,
um salto de olhos fechados.

Viver são listas pra decorar.

12 de jul. de 2012

Você venta em mim

Às vezes, e me bate uma saudade de você,

Que me tira o prumo,
me balança o eixo
e me desalinha a compostura.

E é só beijos, abraços,
respiração e calor
de corpos unidos,

Que eu imagino.

1 de jul. de 2012

Criocultura

Aprendi a escrever uns sonhos
e sonhei escrever um futuro.

Olho meus passos e penso “onde?”.
Vou sem falar nada,
uma coisa tocando o chão
e esgueirando ao vento.

Meu caminho me leva
e constrói o que aprendo.

Essas palavras, se perdem.
Não conseguem acompanhar
sequer a ponta do meu nariz.

Vermelho.

Mais uns dias, vejo meu ego
dissolvendo na água do mar.
Sal, serenidade e sabor.

As cidades cercam a experiência.
Edifícios, veículos;
uma pessoa, um vício.
Perda de paciência.

26 de fev. de 2012

Samba ensina

“Noutro dia nada de alegria,

delirava, enquanto montava

uma torre de ideias em demasia.”

Estava escrito
embaixo da caixa de fósforos
que peguei emprestada
pra cadenciar
um sam-
ba!


Sério mesmo.

14 de ago. de 2011

Vermelho claro

Um obliterar de objetos
parados perante a parede
e não passávamos da porta.

Era um diálogo macio que
tínhamos.

As paredes muito brancas,
com o chão muito vermelho,
Moldeavam o contorno
e o contraste.

Luz, inverno e mudança.
Carregamos as coisas
pelas escadas.

Tentamos
sair sem olhar pra trás.
Mas sempre olhamos.

Cada detalhe.

1 de ago. de 2011

Chorando levanta

Põe a calcinha,
se enfia na calça,
coloca a camiseta,
veste a jaqueta,
agarra a bolsa.

Com cuidado
calça
as meinhas.

Bota a bota...
Pensa.
Pra ir embota.

Dormimos sem anestesia.

25 de jul. de 2011

Faz sol no jardim

Sentamos à semi-sombra
e dois animais nos assombram:

O equilíbrio do colibri
transcende a expectativa
do bem-te-vi.

E nós ficamos olhando.

A tarde passa,
e a vida fica mansa.
O sol enfraquece,
a gente se esquece
e vai aprontar a janta.

Depois dormimos sem filosofia,
como se nada tivesse acontecido.

5 de jul. de 2010

Dar fôrma à forma

Hoje pareceu um dia novo,
Nublado com cara de chuva.

Fiquei esperando você aparecer
Na minha mente,
No meu pensamento.

E apareceu.

Foi rápido e constante.
Sempre você naquilo que eu fazia,
Uma relação de heterotonia.

Juntamos palavras pra sentimentos intercalados.


Saudadesomedeixasozinhocaína,

Distânciamedamedodeperdermeladona,

Solidãoampliaoshorizontestamol.


As receitas de ser.

29 de jun. de 2010

O balão rosa e a vida

Um balão rosa furado
Estirado no chão como um cadáver.
Não havia mortos,
Entretanto o balão representava um final.
As brincadeiras iam se indo.

Quando acaba uma brincadeira
É porque já se tem uma nova.
As brincadeiras não acabam,
Elas mudam mais rápido que a vida.

A vida acaba e não é brincadeira.
Mas brincamos com a importância das coisas
Porque não sabemos o que é importante.
Nas brincadeiras o importante é estar feliz,
Na vida o importante é a distância do fim.

Se eu caminho, infalivelmente, em direção ao fim
E eu sorrio, eu choro, eu sinto falta dos meus
E eu falo, eu ando, eu escrevo o que eu penso,
É porque o tempo das coisas parece maior que a vida.
Mais lento, parado; ou veloz e empolgante.

A vida, vida, ela é aí por aí, algo que seguimos
Não a temos, não a sabemos e, quando ela acaba,
Ficamos sem entender porque brincamos tanto
E não sabemos fazer mais nada
além de brincar.

Quem vive

Dentro da cidade
Como num pote de maionese.
Que balança, roda e te arremessa
Contra as laterais de vidro.
Você vê lá fora
Você quer sair
Mas não sai.
Está tampado.

A cidade é o mundo todo
Tudo o que se quer
Nela se faz.
Nela se tem.
A ela se deve.

17 de mar. de 2010

Café e coragem

Um café,
Granola e pilhas.

Liga o radinho e vai lá.

Tem limpeza pra ser feita na casa toda.

Como naquele tempo
Quando morávamos no Barrerão
Tudo fica sujo o tempo todo
E a mão,
A mão limpa o que consegue.
O suor sulca a cara daquele tempo.

Hoje tudo que é novo está antigo.
A tevê de plasma não converte,
O celular não conecta o bluetooth.
O alarme do carro toca o tempo todo.
A mão,
A mão do homem estremece.

Toma café, toma granola,
Toma ração humana.

Toma cachaça, toma fernet,
Fuma cigarro, marijuana.

Cheira um pó, engole uma bala,
Toma daime, valeriana.

American juicer, acunpultura,
Pilates, ioga, Copacabana.

A mão treme.
Sem controle, continua temendo.

7 de fev. de 2010

Algo

Por tudo que passamos
Queria dizer um oi.
Ou algo.

Qualquer coisa.

Estar é diferente de fazer,
De ser.

Queria estar contigo.

Aí as coisas seriam coisas
Os sentimentos seriam sensações
E nós seriamos como somos:

Qualquer coisa.

Depois de um grande feito,
O que se tem é um passado inesquecível.
Quase coisa alguma.

E é tanto ter alguma coisa
Que não seja nada que se toque
Que se guarde,
Que se pegue.

Uma boa lembrança
é o tesouro
que sempre perdemos por desatenção.

Lembrei de você
E contei sobre a luz do sol que vi.
Ouviste?

5 de out. de 2009

18 de jul. de 2009

O vento de Lisboa

Sopra o corpo
E varre a mente.

O incômodo do estômago
Regado com azeite.

A voz rouca, grave, grossa:
Fumaça e leite.

Lógica temática poética
Atrofia ou distende.

Cabelos despenteados,
Lenço e olhos verdes

Bonde Beira-rio, o mar.
O horizonte se estende.

Fluxo

Algo como uma inundação.
Uma enchente,
Onda,
Jato,
Corredeira.
...
...
...

se foi.


Foi.

13 de jul. de 2009

Despertar

A beleza de viver
A vida que se vive.

Com algumas coisas
Podemos sonhar.

Com a vida.
Com os cães.
Com quartos fechados.
Perseguições,
Tremores,
Esgotamento.
Com o sol.
Pessoas,
Paisagens,
Sabedoria,
Emoções.

É tão real
Quando acontece o sonho.
Podemos sonhar o que vivemos
E viver o que sonhamos.

Sonho que estou dormindo.
Escrevo.

8 de jun. de 2009

Vou deixar você

Preparei umas frases,
Treinei uns gestos,
Empostei a voz.

Repeti, repeti.
Quase me senti pronto.

Mas fiz do jeito que pude.

Uma apresentação demorada.
Contínua, insegura, corajosa.
Quem viu sentiu que viu.

Mais corpo, mais peso.
Ar e movimento.

Tendo dito,
termino em silêncio.

Com certa excitação, saio.
Deixo palmas,
Me salvo.

2 de jun. de 2009

Onde estou

Quero ficar aqui.

Com você pensando em mim
Eu pensando em você.
Nós encostados
Um no outro.

Um pouco de sol,
Calorzinho.

Relaxados,
Com ar refrescando
A pele.

Ou no frio.

Com você me esquentando
Eu abraçado a você.
Nós embaixo
Da coberta.

Assovio do vento,
Escurinho.

Aninhados,
Respiração ofegante
E calor.

10 de mai. de 2009

Leve e longe

Não é verdade e não é mentira.
Nem entendo onde pode ser ou é.
Fica às voltas, zunindo no ouvido.
Se para, pousa. Toca-me o ser.

Toca de leve ou muda o peso.
Percorre o corpo, afunda no peito.
Dilui-se em tremores e calafrios
Ao sair pelos olhos, brilha meu ver.

De novo não tem e está por aqui.
Circula de perto, alfineta na pele.
Tento tocar, guardar para depois,
Foge num salto, não chega a doer.

E fica de longe, não me deixa aqui.
Leva o que sou para o esboço de mim.
Reprisa a imagem, revive o que foi,
Apaga a distância, contorna você.

Volta e vai, em largos de tempo.
Brinca com o tempo, se nem parece ir.
Eu ouço e eu toco e eu vejo em dois.
Ou mais. Um seja eu, os outros você.

6 de mai. de 2009

Poesia do verão a dois

O vento úmido
Dando voltas do chão até em cima.
Folhas, poeira, gotas fugidias.

Tempestade se anuncia.

Correria.
Escadarias.
Redemoinhos.

Vulto veria vaga ventania.

pausa

Tento te encontrar,
Encontro sem tentar.

Ah,
um beijo
e alegria.

E segue o dia.
E muda o dia.
(bom dia)

Não chove.
E, se chovesse,
Nem choveria.

26 de abr. de 2009

Florêncio de boa

Um lero no banheiro do bolero

- Na boa cara, eu sou hetero.
- Porque você tá falando isso?
- Chega uma hora que fica todo mundo meio louco.
- Você é que tá muito louco.
- Louco nada, cara! Sou gato escaldado.

* * *

- Mmmphsfffeilda Becker! Hahaha.
- ...
- Haheheceilda Becker! Hehehe.
- ...
- Vuoocêê éé uma eischtátua?
- Cara, eu não tô afim de falar com você. Na boa.
- Ááééíínnmmhhmmmmmm.

25 de abr. de 2009

Como matar um ideal

Juntando o que se fala
Quando não estão presentes
Os entes assuntos.

Conversas veladas,
Cochichos, resmungos.

Patifaria, olhares de canto.

Esconder atrás do pilar,
Trocadilhos inteligentes,
Mudanças de assunto.

Saídas estratégicas,
Andares disfarçados.

Fugidas, caras de espanto.

Democracia, amor
E amigos.(envolvidos,
Outros nem tanto).

13 de abr. de 2009

Meditação

Certa vez
Petúnia pegou um pedacinho de pano,
Uma agulha e linha
E costurou desenhando.

Um pequeno desenho.

Depois de um tempo,
Suspirava cada vez que o via.

O desenho a fazia lembrar
Da beleza que foi
Fazê-lo.

Dias não tão pesados

A greve do transporte parou a cidade.
Petúnia não foi trabalhar.
Comprou mandioca
No velhinho da carriola.
A mãe cozinhou
E ela almoçou em casa.
Teve um dia particularmente leve.

8 de abr. de 2009

Abraços e caninos

Vai prum canto
E fica lá.

Pessoas vão.
Servem pra isso.
Pessoas ficam.
Sentem por isso.

Também vão
Os pássaros.
As águas.
As pilhas.
Os lápis.
Tecidos,
Comidas,
Prazeres.

O tempo parece ir.
Será que vai?

A infância acaba
Mas não passa.
Os metais não vão
Mas mudam.

Quando o amor se vai
Eu sou o que fica.

E brinco com algum cachorro.

1 de abr. de 2009

Frisson

Quando acordei
Comecei a cantar.
Não escolhi a música,
Cantei.

O dia passa,
A semana acaba,
A lua muda.
Cantei.

Contato

Seis fatias grossas de muzzarela.
Dois pães.
Uma xícara, sem açúcar.

O café da manhã parece tão bom.

Depois de uma noite especial.
O dia parece não ter fim.

Se eu pudesse, não teria sol nem lua,
Teria nós.
E corpos.

28 de mar. de 2009

Cidades

Estava bem longe daqui

Cento e cinquenta cidades
Vinte por cento de desejo
O resto foi sorte.

Nunca saiu do lugar
Foi profundo, tanto.
Mostrou aos outros como são.

Estava sendo o seu externo.
Eterno, sem tamanho.
O mundo é tão pequeno.

As mesmas ruas
No tráfego do entendimento.
Os caminhos não tem fim.

Selvagem viagem sem selva
Pra lá e pra lá mais ainda
Pipoca bandeirante.

Mesa, cadeira, palavra.
Raiz.
Sempre aqui, sempre aqui.

23 de mar. de 2009

No tempo

Numa noite
Acordado até tarde.

Entra pela porta
E chama por você.
Você mesmo.

Parado, pensando
Em não ir,
Em não voltar.

O que fez você
Se foi.
O que fará você
Se vai.

Entra pela porta
E leva.
Nada de você fica.
Nada de você se vai.

Nalgum momento,
Noite-espaço-tempo,
Encontra-se.

Você.

Sonho antes de dormir.

16 de mar. de 2009

Três momentos do espírito

Não pra ser frio,
Quente.
Sempre há possibilidade
de encontros,
de surpresas.

Ou ficar deitado ao sol.

Se estamos acostumados,
É por isso que, primeiro muda,
Depois cessa o comando
E se olha pros lados,
perdido, procurando.

Não a si, porque acha-se.
Mas ao mundo,
Porque abre-se.

Vive em quem vive.

Intenso e não tem cura.
É o homem.

Lá vai ele ao escritório.

11 de mar. de 2009

Molinum

Quem é moinho?

O moinho de vento
Aproveita
O vento oportuno.

O giro da hélice
Movimenta
O nó do mecanismo.

O embalo do peso
Acrescenta
O atrito da mó.

O produto feito
Apresenta
O aspecto do pó.

O pó do alimento
Sustenta
O ser que está só.

Moinhos são artistas.

Delito

Bolinho de chocolate.
Caminha de espuma.
Tapetinho de lã.
Espelhinho redondo.

Uma mulher violentada.
Três gotas de sangue.
Uma maçã.

Enquanto chegavam,
Os policias
Limpavam as marcas de batom,
Tiravam o esmalte das unhas,
Escondiam a calcinha
Debaixo do cinturão.

Na saída, saiam sem saia.

10 de mar. de 2009

Esse, pessoal

Pisava no chão
Sentia o peso do corpo.
Devagar.

Todos estavam passeando,
Levando suas mentes pra jantar.
Se visse que a comida estava lá,
O olho pegava e passava a esperar.
Precisava de tempo pra pensar.

Todos queriam achar o algo.
Manter o que sabiam na conserva.
Lotar o carrinho, encher a despensa.
Equilíbrio se perde quando se leva
Tantos embrulhos numa remessa.

Todos? Todos. Pagavam caro.
Ninguém tem que ver com isso.
Olhando pra fora sem motivo,
Confiando que o dente dá juízo.
Prende, que o animal está vivo.

O pessoal por aí tá procurando.
A gente aqui
Achou.

5 de mar. de 2009

Interligados

Liguei.
Liguei de novo.

Repito pra acertar da próxima vez.

É diferente o certo da tentativa.
No certo me sinto bem,
Na tentativa quero outra chance.

Nada de mal em continuar vivendo.
Mais uma pessoa conhecida morreu hoje.

Por isso continuo tentando.
Não desligo
De mim, de você,
De tanta gente.

Estamos todos neste isto:
Liga, desliga, tenta, desiste.
Até o fim.

O que somos, somos nós.

12 de fev. de 2009

A cena segue

Velório.
Uma moça dentro do caixão.
Um homem chorando calmamente, próximo ao caixão.
Algumas mulheres desconsoladas dentro da sala.
Uma pessoa contando piadas fora da sala.
Uma roda de pessoas rindo disfarçadamente.
Pessoas entrando e saindo da sala, introspectivas.
Cheiro de flores, de velas e de choro.
Cheiro de defunto.
Então começa o poema:

O sol brilhava.
Hora do almoço.
Poucas nuvens, edifícios.
Calor, suor e gás carbônico.
Poucos casais. Poucas crianças.
Muitos passantes nas calçadas.
Barulho de carros e de comércio.
Vi você atravessando na faixa.
Nos abraçamos, atrapalhamos as pessoas.
Nos olhamos nos olhos.
Tudo refletia amarelo e branco.
Respiramos calmamente.
Passos equilibrados.
Pele e proximidade.
Retemos o tempo.
Deslizamos na multidão.
Quase ninguém percebe.

Termina o poema.
E o velório.

Há milhares de anos
Enterra-se o que está morto.

2 de fev. de 2009

Procurando poesia

Ia tomar um café,
Comer algo também.
A garoa desanimou.

E sorri sozinho.

Desisto se não tem importância.

Conversas de computador
Pão com manteiga
Desodorante
Re-encontros
Cópia da chave
Abraços
Prateleiras organizadas
Televisão
Roupa úmida
Parentes
Gastos planejados
Notícia ruim
Você.

Em você eu penso.

Às vezes trabalho,
Aproveito a vida.

25 de jan. de 2009

Roupa de enfermeiro

O pijama que eu vesti
Era uma roupa velha.

Só pra dormir.

Depois de ter dançado,
De ter bebido,
De ter fumado.

O sonho precisou das horas
Desta manhã sem sol.

O dia inteiro
É a lembrança de ontem.

Geralmente,
Faço o que quero.
Troquei de roupa.

Não troquei de sonho.

20 de jan. de 2009

Quem vê de baixo

Quando estava alto
Era de cima que via.

Ontem seu quadro na minha mente.
Suas cores,
Sabores sem gosto.

Provei tanto e agora fico quieto.

Hoje imagino algo,
Subversividade, rebeldia.

Um novo desenho desmente.
Pulo dentro,
Mostro o rosto.

Penso pouco, passo reto.

Eu mundo paro,
Não paro.

28 de set. de 2008

Minha memória curta

Fiz três planos
Antes de dormir.
Um eu achei difícil,
Os outros dois eu esqueci.

Acordei com dor de cabeça,
Não tinha nenhum remédio.

No banho coloquei a mão na cabeça,
Lembrei.
Mas era dia de cumprir com a obrigação.
Enxuguei.
Os planos ficaram pra outra ocasião.

Hoje consegui um tempo livre,
Agora estou pensando em nós.

Enfim.

26 de ago. de 2008

Deixando Ir

Um dia a gente se encontra

Ao acaso

E casa.

Comida

Gato

Planta

Sofá

Maquina de lavar

Eletricidade.


Um dia eu pago a conta

Com atraso

E cansa.

Sem vida

Pulga

Formiga

Fedor

Preguiça de levantar

Ansiedade.


Noutro dia ninguém me acha.

23 de jul. de 2008

Década de oitenta

Tio Odilo,
Lustrava um Opala
Vestia colete
Odiava Mobilete
Babava em vitela
Transava Salete
Morava em São Paulo
Penteava o topete.

9 de jun. de 2008

Nada pra fazer?

Sábado eu estava comunicativo. Comprei um saco de pipocas. Chutei a boca de um mendigo. Fugi rindo. Entrei num bar e tomei um forte. Bafejei na cara do cara. Tomei um soco e fiquei quieto. Quando o cara saiu eu ataquei o copo na cabeça dele. Fugi sem ver se tinha acertado. Esqueci de pagar. O garçom correu atrás de mim. Não me alcançou. Pedi um cigarro. Pedi fogo. Fumei um pouco e joguei fora. A moça que me deu o cigarro viu e me xingou. Mandei a vaca tomar no cu. O amigo dela veio querendo me bater. Quebrei um cabo de vassoura na cabeça dele. Sai vazado. Mexi com uma puta. Ela gostou. Cheguei beliscando a bunda dela. Deu merda. Fugi rapidinho de um cara de terno com uma arma. Roubei um DVD pirata. Tentei fugir sem ser notado. Os manos da banquinha se ligaram. Tomei um pau. Sai mancando. Fui jogar uma ficha. Joguei doze. Enjoei. Peguei uma cerveja. Fui jogar um bilhar. Perdi cinco. Pedi outro cigarro. Veio aceso. Fumei tudo. Comi um pastel. Passei mal. Vomitei numa tia. Sem querer. A tia me xingou muito. Mandei a vaca tomar no cu. Não pegou nada. Sai andando. Trombei o Messias. Falei tudo. Ele não botou uma fé.

31 de mai. de 2008

Epígrafe

Poesia do começo do drama.

Um homem anda.
Anda, anda.
Anda ainda.

De nada anda.
Anda, anda.
Anda e nada.

The women are panda

Sem estrada anda.
Anda, anda,
Anda e atrasa!

O hábito

O hábito
Adapta.
O hábito
Não deixa crescer a barba.
O hábito,
O lugar que se habita, o habitat.
A conquista do costume.